O Quereres
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As
palavras são ditas trêmulas, arranham a garganta sem vontade de sair, mas
acabam por trair o querer. Os olhos mantêm-se fiéis ao desejo, eles podem até mudar
de cor ao entardecer, mas eles denunciam onde a boca deveria pairar.
Meus
beijos anseiam pelo seu batom, mas são as minhas mãos que saem em disparada à
procura do teu corpo. Tenho a licença poética de emaranhar os meus braços em
sua cintura e te trazer junto a mim.
Da
mesma gentileza que uma dama é conduzida numa dança de corte em tempos
medievais, meus dedos entrelaçados nos cabelos de sua nuca trouxeram seu rosto
para junto do meu. Agora as palavras de negação já estavam sem eficácia, havia
apenas o breve silêncio que antecede o estardalhaço de um beijo desejado.
A
sensação foi tão sinestésica, que seria injusto resumi-la a ‘um beijo’. Dois corpos
movendo-se em uníssono, dando seus primeiros passos num sincronia ímpar. Uma
dança que não havíamos ensaiado, mas cada movimento meu tinha uma resposta pronta.
O
escarlate de seus lábios havia batido em retirada, assim como o resto de suas
defesas. A palma da minha mão transformara-se no repouso da satisfação do seu
rosto. Sua mão estava sobre o meu peito e tentava equalizar nossas disritmias.
Apesar
de todas as nossas diferenças, e das escolhas destoarem com uma nitidez
ruidosa, não foi difícil desvendar que os pares de olhos são da mesma cor quando
se fecham.
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