Sábado à Noite
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O salto de tão alto, esqueceu de lhe descer. A
autoestima subiu junto com o calcanhar. Sentir os pés no chão não era uma
alternativa nas próximas horas.
Dores incômodas são ligeiramente esquecidas quando
a linha do horizonte é vista de cima. Somente as pontas dos dedos rentes ao
solo não a deixam esquecer por onde pode pisar.
O símbolo do infinito tatuado em seu punho esquerdo
está pontilhado só para lembrar que a vida é curta. A certeza dos seus passos
faz o acaso recuar; e deixa as mãos livres para alcançar o que deseja.
O batom pega carona nos seus lábios na tentativa de
ser notado. Frustrado, perde espaço quando os dentes encontram a própria carne
e denunciam desejo. O vermelho, ainda vivo, arranca olhares quando desenhado em
outras faces, ou borrado em outras bocas.
Os fios loiros ondulados lhe roubam um pouco da
visão, mas seus dedos lançam-nos para trás. Uma jogada ensaiada para disfarçar
suas intenções.
A malícia despontada num sorriso desce pelo corpo e
põem em movimento o cruzar das pernas torneadas. Ela caminha vagarosamente para
que os desavisados, em vão, tentem se achar em suas curvas.
O vestido preto lhe abraçava o corpo e um rastro de
insinuosas vontades jazia evidente por entre as mesas. Perder-lhe de vista
tiravam os pescoços virados do caminho.
Os castanhos dos seus olhos parecem terem sido
furtados numa noite quente. Tão inquietos percorrem outros pares por alguns
segundos. Enfim, dois de igual intensidade lhe seguram no ar.
Quando chega ao seu destino, o olhar que a atraíra
já estava a se render. Depois de um beijo incontido, afasta-se e deixa para
trás parte de seu batom misturado a doces ilusões.
O pontilhar de sua tatuagem lembrou-lhe que sua
partida estava atrasada. Desatou-se em disparada, deixando a noite para trás. Não
cabia mais ninguém em seu infinito particular.